Estou em branco
Uma conversa, pinta?
Um diálogo, uma mesa de bar
Prefere em café?
Um chá? Perfeito!
Eu sei como é
É que eu tô com uma dor no peito
Precisada de te contar
E me arrancaram a tinta
O atirador é franco
E eu acordei vazia
É, eu sei
Você gosta de ler?
Ah, se eu soubesse te trazia
Sério, muito obrigada
É amor e trabalho que eu coloquei
Você não sabe o quanto significa pra mim
Mas deixa eu te contar
Não, claro, eu espero
Falo quando você estiver a fim
Aham, agora posso?
É que eu coloquei tanto esmero
Tiraram tudo que era nosso
Me esconder? Mas por quê?
Parar de escrever?
Só por agora?
Você ouviu o que eu disse?
Não, ignorância é não saber
Virar as costas depois de ver
Como se você não visse
Se negar a perceber
O que tá na tua cara a toda hora
É intolerância
Sou eu quem você não aguenta?
Ou é a minha arte?
Ah, umas coisas você gosta, entendi
Mas esse meu comportamento
Meu lado fiasquenta
Qual é a tua esperança?
Que eu vá tirar de mim alguma parte?
O que sou e o que vivi
Ou desconectar do contexto e da realidade a obra
Encaixar expressão e estética ao regulamento?
E daí, o que que sobra?
É tanta discrepância
Entre o amor que você diz que sente
Entre a sua preocupação com o bem
E o negar quando ele mente
E te faz desse estúpido ódio refém
Quem você de verdade considera?
Quer que eu seja sincera?
Calada
eu não escrevo nada
E eu prefiro estar morta
Quando derrubarem a porta